Gosto de viver numa rua que é um bairro, onde todos se conhecem. Gosto de conhecer as pessoas e de falar com elas. Acho que nem conseguiria viver num sítio onde ninguém se cumprimentasse, ou falasse um pouco.
Por ser uma rua com prédios antigos a maioria dos meus vizinhos são séniores, há poucos jovens. Há a senhora do prédio em frente, que está sempre à janela e me acena todos os dias. Quando lá vou falar, levo a miúda e ficam as duas a sorrirem e a falarem. Uma com 8 meses e meio, a outra com 93 anos.
Há as duas irmãs, uma rabugenta e mandona e a outra mais simpática, mas que insiste em chamar a miúda de Mariana. Já desisti de a corrigir. Para ela é Mariana. Há também a mãe destas duas irmãs, que mora noutra casa, mas acho que tem alzheimer, porque nunca se lembra de mim e todos os dias lhe digo que sim, somos vizinhas, moro ali há muitos anos.
Há o Sr. César, que passa na rua todos os dias, mas não sei onde mora. A Ana com o seu labrador Zeus, e a Marta com a cadelinha Suri. Há as duas brasileiras da loja do chinês que adoram a miúda e lhe fazem uma festa cada vez que a vêem. O Sr. Júlio da pastelaria que me trata sempre por "menina". O polícia sinaleiro que manda parar os carros para que me deixem passar (quando eu estava grávida, quase se punha à frente dos carros, e apitava violentamente a quem se atrevesse a desobedecer-lhe). A senhora da farmácia guarda ofertas e brindes para a miúda, e ao fim de semana, depois de bebermos café vamos lá falar com ela. O chinês que foi meu inquilino, e que tem um restaurante japonês, onde vamos algumas vezes. O indiano que me vende os nag champa, e onde eu ponho o euromilhões. O Sr. António da mercearia, a D. Fernanda da banca dos jornais. E o Sr. Correia, que passeava todas as manhãs no jardim, e tinha uma verdadeira adoração pelo meu jovem. Os seus olhos iluminavam-se cada vez que o via. Falavam muito. Mas acho que ele já não está entre nós, porque deixou de aparecer, nunca atendeu o telemóvel, estava sempre desligado. Nunca mais o vimos.
O Sr. Luís e a mulher têm um pequeno restaurante na esquina. A senhora gosta de vir falar com a miúda, e vá lá, já deixou de me perguntar se lhe dava maminha. Porque ela se pudesse, tinha amamentado o seu Carlos Jorge até este ter ido para a tropa.
O Sr. Fernando dono da pastelaria, que está sempre a falar da sua neta, a Margarida, luz dos seus olhos. Agora tem mais um neto, a filha é um bocado irresponsável porque tem o marido a trabalhar em Moçambique, e veio de lá com barriga depois de o visitar, imagine-se. E depois quem é que alomba com os miúdos? Os avós, claro.
E estes são alguns dos que me lembro agora, faltarão outros.
Gosto de viver aqui.
5 comentários:
Fiquei com pena pelo Sr. Correia. :(
eu também :-(
Que delícia de vizinhança.
Vê lá se te lembras dos outros...adorei o texto :)
:-)
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