domingo, 19 de maio de 2013

i nonni/os avós

Ontem chegaram os nonni, e há muito tempo eu não via a minha filha tão contente. Dava pulinhos de alegria, gritinhos, quis desenhar com eles, cozinhar e beber chá, vestir o bébé, brincar com os carros e mostrar os peluches preferidos. Houve até uma altura em que me disse para eu sair do quarto "vai via mamma". (a minha mãe, que é psi, disse-me que isto é bom sinal, significa que ela tem a capacidade de investir emocionalmente em mais do que uma pessoa) E vê-la a brincar com os nonni encheu-me de ternura. Pensei que ela não tem a sorte que eu tive de ter os meus 4 avós perto de mim. E isso encheu-me de tristeza.
E de noite sonhei.

Era de noite, e eu corria assustada pelas ruas de Lisboa. Alguém me queria fazer mal. Eu corria e os meu pés pesavam tanto. Cheguei à praça do areeiro, onde moravam os meu avós paternos, e gritei que me abrissem a porta.
(A ultima vez que estive naquela casa, foi num dia cinzento e frio, e as 8 assoalhadas estavam vazias de tudo. De coisas, de pessoas, de memórias. Que triste foi perceber que terminava a era dos avós, e começava outra.)
Abriram-me a porta, galguei as escadas e encontrei a casa plena de luz, com todas as coisas no seu sítio, cheia de vida. O meu avô estava à minha espera e eu afundei-me no seu abraço forte enquanto chorava e chorava.

Que falta fazem os avós.
O sonho fez-me recordar tantas coisas boas. Os meus avós cheios de vida, os grandes almoços familiares de sábado, o leite creme, o bolo de laranja, as gemadas que a minha avó me dava, a Ivone, que era a cadela do meu tio que adorava batatas fritas, sentar-me na camilha a aquecer as pernas na braseira, o perú bêbedo que encontrei na casa de banho na véspera de natal, os torneios de canasta da minha avó com as suas amigas, a Violeta meia zarolha a passar a ferro, a Rosa, cozinheira, que tinha vindo da aldeia e que era amiga do tinto, os sapatos de salto alto da minha avó (calçava o 35), os chapéus com penas, redes, flores, de todas as cores e feitios, os vestidos e as peles que eu e a minha irmã adorávamos, a Mina (este será outro post) o meu avô com a sua gargalhada generosa, o meu avô que agarrava no guardanapo na ponta e depois fingia que mo atirava por cima dos pratos enquanto dizia, come Patrícia, o meu avô que adorava touradas e comia tudo com gosto, o meu avô que me levava ao café e me punha a mão no ombro enquanto íamos pela rua. o meu avô cheio de vida. o meu avô.

6 comentários:

gralha disse...

Que post tão bonito, Triss. E que bom que é para a tua bonequinha poder passar uns dias com os avós de longe :)

Pois eu lembro-me de estar na casa dos teus avós maternos - seria?? -, que tinha um baloiço no vão da porta do quarto, e onde pedi à minha prima I. para escrever por mim uma carta de amor ao George Michael :)

Su disse...

Sim, sem dúvida, os avós são muito importantes na nossa vida! Eu tive os melhores avós do mundo!

Analog Girl disse...

Que lindo! Adorei este texto Triss. Eu até agora ainda tenho 3 avós (infelizmente este ano faz 10 anos que perdi o meu avô, o preferido) e parecem estar todos rijos e de boa saúde (e assim quero que continuem).
No meu caso acredito que tive mais sorte que os meus futuros filhos, que não conhecerão 2 avós... Mas é mesmo assim a vida.

triss disse...

gralha, o baloiço estava em minha casa, e até me lembro desse aniversário. Tenho lá as fotos de nós todos de volta do bolo, tu pequenina, a R., a I, a minha irmã,etc:-)
Que pancada com o George Michael:-)

Julieta, e é impressionante como nos fazem falta...

Que bom Analog:-)

Maria Bê disse...

Triss,
Os avós fazem falta, ó se fazem...
Também penso que os meus filhos não verão nascer os coelhinhos ou andarão a apanhar os primeiros morangos. Não saberão o que é comer a gemada com o ovo fresquinho ou a que cheiram os rojões e os bolinhos de bacalhau da minha avó. Dá-me cada crise de nostalgia... mas depois passa a nostalgia, eles terão outras coisas que eu não tive e jamais sentirão falta do que não conheceram. Entristece-me muito é ter a família tão longe...
Sorriso!

anf disse...

Sabes quando eu perdi o meu único avó, pois os outros já tinham morrido, tinha 8 anos e o que lembro daquele dia, o dia do funeral é que tinha sofrido uma perda muito grande, hoje não tenho dúvidas que foi ainda maior,
beijinho