Ontem chegaram os nonni, e há muito tempo eu não via a minha filha tão contente. Dava pulinhos de alegria, gritinhos, quis desenhar com eles, cozinhar e beber chá, vestir o bébé, brincar com os carros e mostrar os peluches preferidos. Houve até uma altura em que me disse para eu sair do quarto "vai via mamma". (a minha mãe, que é psi, disse-me que isto é bom sinal, significa que ela tem a capacidade de investir emocionalmente em mais do que uma pessoa) E vê-la a brincar com os nonni encheu-me de ternura. Pensei que ela não tem a sorte que eu tive de ter os meus 4 avós perto de mim. E isso encheu-me de tristeza.
E de noite sonhei.
Era de noite, e eu corria assustada pelas ruas de Lisboa. Alguém me queria fazer mal. Eu corria e os meu pés pesavam tanto. Cheguei à praça do areeiro, onde moravam os meu avós paternos, e gritei que me abrissem a porta.
(A ultima vez que estive naquela casa, foi num dia cinzento e frio, e as 8 assoalhadas estavam vazias de tudo. De coisas, de pessoas, de memórias. Que triste foi perceber que terminava a era dos avós, e começava outra.)
Abriram-me a porta, galguei as escadas e encontrei a casa plena de luz, com todas as coisas no seu sítio, cheia de vida. O meu avô estava à minha espera e eu afundei-me no seu abraço forte enquanto chorava e chorava.
Que falta fazem os avós.
O sonho fez-me recordar tantas coisas boas. Os meus avós cheios de vida, os grandes almoços familiares de sábado, o leite creme, o bolo de laranja, as gemadas que a minha avó me dava, a Ivone, que era a cadela do meu tio que adorava batatas fritas, sentar-me na camilha a aquecer as pernas na braseira, o perú bêbedo que encontrei na casa de banho na véspera de natal, os torneios de canasta da minha avó com as suas amigas, a Violeta meia zarolha a passar a ferro, a Rosa, cozinheira, que tinha vindo da aldeia e que era amiga do tinto, os sapatos de salto alto da minha avó (calçava o 35), os chapéus com penas, redes, flores, de todas as cores e feitios, os vestidos e as peles que eu e a minha irmã adorávamos, a Mina (este será outro post) o meu avô com a sua gargalhada generosa, o meu avô que agarrava no guardanapo na ponta e depois fingia que mo atirava por cima dos pratos enquanto dizia, come Patrícia, o meu avô que adorava touradas e comia tudo com gosto, o meu avô que me levava ao café e me punha a mão no ombro enquanto íamos pela rua. o meu avô cheio de vida. o meu avô.
6 comentários:
Que post tão bonito, Triss. E que bom que é para a tua bonequinha poder passar uns dias com os avós de longe :)
Pois eu lembro-me de estar na casa dos teus avós maternos - seria?? -, que tinha um baloiço no vão da porta do quarto, e onde pedi à minha prima I. para escrever por mim uma carta de amor ao George Michael :)
Sim, sem dúvida, os avós são muito importantes na nossa vida! Eu tive os melhores avós do mundo!
Que lindo! Adorei este texto Triss. Eu até agora ainda tenho 3 avós (infelizmente este ano faz 10 anos que perdi o meu avô, o preferido) e parecem estar todos rijos e de boa saúde (e assim quero que continuem).
No meu caso acredito que tive mais sorte que os meus futuros filhos, que não conhecerão 2 avós... Mas é mesmo assim a vida.
gralha, o baloiço estava em minha casa, e até me lembro desse aniversário. Tenho lá as fotos de nós todos de volta do bolo, tu pequenina, a R., a I, a minha irmã,etc:-)
Que pancada com o George Michael:-)
Julieta, e é impressionante como nos fazem falta...
Que bom Analog:-)
Triss,
Os avós fazem falta, ó se fazem...
Também penso que os meus filhos não verão nascer os coelhinhos ou andarão a apanhar os primeiros morangos. Não saberão o que é comer a gemada com o ovo fresquinho ou a que cheiram os rojões e os bolinhos de bacalhau da minha avó. Dá-me cada crise de nostalgia... mas depois passa a nostalgia, eles terão outras coisas que eu não tive e jamais sentirão falta do que não conheceram. Entristece-me muito é ter a família tão longe...
Sorriso!
Sabes quando eu perdi o meu único avó, pois os outros já tinham morrido, tinha 8 anos e o que lembro daquele dia, o dia do funeral é que tinha sofrido uma perda muito grande, hoje não tenho dúvidas que foi ainda maior,
beijinho
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