terça-feira, 15 de janeiro de 2008

os passageiros

A organização aeroportuária do Hajj é revoltante.
É extremamente complicado entrar e sair do país. Á entrada entregamos os nossos passaportes e é-nos dado um visto de permanência de 72horas, válido so,mente para a cidade de Jeddah. como estamos sempre a entrar e sair, nunca excedemos esse visto.
Conforme a disposição dos agentes da imigração, podemos esperar 1h ou 8h, para entrar ou sair. Sempre. Mas isto só acontece com tripulações ocidentais. As outras tripulações que fazem o hajj, como as africanas por exemplo, entram e saem sem problemas.
Hoje em conversa com um françês, fiscal do aeroporto (veio fazer uma busca ao avião para ver se tínhamos alcool), fiquei a perceber como são tratados os passageiros. Não têm bilhetes com dia e hora marcada. Por vezes esperam 5 dias no aeroporto, ao relento, à espera de voltarem para casa. E são tão mal tratados pelos árabes. É impressionante.
Quando chegam ao nosso avião estão exaustos, depois de um mês de peregrinação, e mais uns dias de espera no aeroporto. Os homens entram primeiro e ficam sentados à frente, as mulheres entram depois e ficam sentadas atrás.
São pessoas muito simples. Não sabem colocar os cintos de segurança e muito menos usar a casa de banho. As mulheres puxam-me a mão, apontam para os genitais e dizem "piss". Eu levo-as e mostro a retrete, mas tenho de fazer a mímica de como se usa... Cheguei a apanhar um passageiro que queria aliviar-se em pleno corredor do avião.
Todos querem usar a água das torneiras para se lavarem, mas nós temos de fechar a água, senão é uma inundação na certa. Não usam papel higiénico porque é pecado tocarem-se. Também nunca viram um atoclismo, muitas vezes temos de ser nós a ir puxar. (não me pagam para isto caneco)
Também não podemos dar garrafas de água do catering. Só copos, servidos na altura, e bebidos à nossa frente. Parece estranho não é? Mas imaginem 300 pessoas a lavarem-se com garrafas de água num avião. Pois.
Talheres não usam, comem com as mãos. Já vi passageiros que nem comem, tiram o arroz e o a carne com a mão e metem dentro da mala. À solta. Eu digo que podem levar mas não me entendem. A pobreza é aflitiva, de cortar o coração.
Chamam-nos "sister", e são de uma simpatia enorme depois de passado o terror de voar.
Quando aterramos, as caras deles transformam-se. Sorriem, gritam e falam uns com os outros (durante todo o vôo vão caladinhos). Apertam-nos as mãos agradecidos por não termos caído no meio do oceano. E mesmo com a falta de higiene toda, o que se faz? Apertamos as mãos deles, (quase todos, e são 300) e sorrimos também. Não precisamos de falar a mesma língua para percebermos quando alguém nos agradece do fundo do coração.

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