Ontem estava no metro quando vi uma cara familiar. Um homem louro, olhos azuis, alto, ar distinto, sério. Reconheci o meu professor de filosofia do liceu.
O professor Marcelo foi meu professor e também meu explicador. Ajudou-me na preparação para a prova específica de entrada na faculdade. Lembro-me de estar em casa dele, sentada a ler a "Crítica da Razão Pura" de Kant, com o lápis na boca e a cabeça apoiada no braço. Ele dava grandes passadas pela sala, fumava cigarro atrás de cigarro, e dizia "Ei minina, voçê não está pensando. Raciocine. Pense." (ele era brasileiro)
Parecia tudo tão fácil quando ele me explicava...
Na sala de aula não havia "stôr" para ninguém, exigia ser chamado de professor. Rebaldaria também não havia. Ai de quem ousasse falar com o colega do lado. Ele lançava um olhar assassino do alto dos seus quase 2 metros, e ficávamos mudos. Um dia houve um miúdo que se atreveu a fazer uma brincadeira, e levou imediatamente com o giz na cabeça. Cirúrgico.
Uma coisa fabulosa do professor Marcelo era que, imagine-se, nos obrigava a estudar.
Nunca marcou testes. As sabatinas (testes) eram sempre surpresa. Ele entrava na sala e dizia "Bom djia. Sabátchina." Com o terror das sabatinas surpresas éramos obrigados a estudar todas as semanas, e a ter a matéria em dia. Não houve ninguém que chumbasse.
Não deveria ser assim hoje em dia?
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